28.12.09

Afeganistão

Guerra no Afeganistão: mais um fato do absurdo


Soldado afegão em frente a um dos dois caminhões-tanque bombardeados em setembro, em Kunduz, no Afeganistão.


A revista alemã Der Spiegel publicou uma entrevista com um sobrevivente da explosão dois caminhões de combustível, em Kunduz.

Os caminhçoes explodiram após ataque de aviões dos EUA.

O sobrevivente era Abdul Malek, motorista afegão de um dos caminhões. Ele explica, quando perguntado como começo o sequestro:
"Naquele dia, saímos de Kunduz com os dois caminhões-tanque por volta das 12h30 em direção a Cabul, no sul. Logo depois que saímos, meu veículo quebrou, então fomos obrigados a parar. Depois que o consertamos, retomamos a viagem. Mas alguns minutos depois, fomos parados por cerca de 25 homens armados, que estavam bloqueando a estrada."
E continua explicando:
Ficou imediatamente óbvio para nós que os homens pertenciam ao Taleban. A única coisa incomum era que eles estavam muito mal vestidos e nem sequer usavam sapatos. Eles nos ameaçaram e disseram que eram tão pobres que queriam levar os caminhões-tanque para seu vilarejo, Omar Khel, que fica a sudoeste de Kunduz. Lá, eles queriam sifonar o combustível para fora dos caminhões. Eles disseram que precisavam do combustível dos caminhões em seus vilarejos. Eles disseram que atirariam em nós se mostrássemos alguma resistência.
Perguntado sobre quem e quantos eram as pessoas que roubavam o combustível ele explica:
É difícil dizer; havia muitas pessoas. Em determinados momentos, havia 200 pessoas em volta dos caminhões, esperando tirar algum combustível de graça. Foi um caos completo. Cerca de 40 a 50 homens estavam armados. Eles fizeram com que as pessoas ficassem em filas. O resto parecia ser de moradores locais, embora alguns tivessem os rostos cobertos. Com certeza as pessoas eram apenas agricultores comuns dos vilarejos, mas muitas delas conheciam os militantes Taleban armados. Elas os cumprimentaram pelos nomes e agradeceram pelo combustível. Nesses vilarejos, é difícil dizer quem é do Taleban e quem não é.
Lendo a entrevista, me lembrei da história Robin Hood e sua luta para roubar dos ricos para dar aos pobres. Ele seria então um terrorista do período feudal?

A entrevista prossegue. Quando as bombas cairam ele descreve:
Nunca esquecerei esse momento. Em primeiro lugar, houve um barulho alto, como o que você ouve quando um gerador entra em curto-circuito. Depois veio um flash brilhante. Eu simplesmente me deixei cair para frente e entrei debaixo d'água. Mesmo de lá, pude sentir a onda de choque. Por alguns segundos, ficou claro como o dia. Até a água ficou quente. Quando eu saí da água, toda a área em volta do caminhão tanque estava em chamas. Parecia que o chão estava cuspindo fogo, embora fosse apenas o combustível dos caminhões. Estava insuportavelmente quente. Havia corpos por toda parte; eles estavam completamente carbonizados.

(...)

Eu estava em choque. Acredito que havia cerca de 120 pessoas antes do bombardeio; apenas algumas sobreviveram. Ainda vi alguns militantes do Taleban; eles estavam correndo do lugar com suas armas. Eu estava com muito medo, então corri o mais longe que pude. Cheguei a uma plantação de arroz, onde fiquei sentado encolhido até de manhã. Durante toda a noite, eu ouvi homens carregando os feridos e mortos do lugar; mas eu não queria ver mais nada. Toda noite, eu vejo essas imagens nos meus sonhos. Eu nunca conseguirei superar de fato essa noite no rio Kunduz.
Fico pensando...

Qual será o custo de colocar três aviões de combate no ar? Quanto custa cada bomba disparada contra esses caminhões? O seguro das cargas não era mais barato que toda essa operação? E a vida dos inocentes que apenas queriam um pouco de combustível para viver?

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A guerra no Afeganistão segue sendo uma vergonha para toda humanidade.

Leia a entrevista completa clicando aqui.

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