19.5.10

Fogo e ciências

Um dia que os cientistas choraram

Carl Sagan, no início de sua série Cosmos lamentava o fim da Biblioteca de Alexandria.

Ilustração da Biblioteca de Alexandria

Ele descrevia a Bibliteca:

" (...) Alexandria era a capital editorial do planeta. É claro que na altura não existia a imprensa. Os livros eram caros; cada exemplar tinha de ser copiado à mão. A biblioteca era o repositório das melhores cópias do mundo. Foi ali inventada a arte da edição crítica. O Antigo Testamento chegou-nos directamente das traduções gregas feitas na Biblioteca de Alexandria. Os Ptolomeus usaram muita da sua enorme riqueza na aquisição de todos os livros gregos, assim como dos trabalhos originários de África, da Pérsia, da Índia, de Israel e de outras regiões do mundo. Ptolomeu III Evergeto tentou pedir em empréstimo a Atenas os manuscritos originais ou as cópias oficiais das grandes tragédias de Sófocles, Esquilo e Eurípedes. Para os atenienses, esses textos eram uma espécie de património cultural — um pouco como, para a Inglaterra, os manuscritos ou as primeiras edições das obras de Shakespeare; por isso, mostraram-se reticentes em deixar os manuscritos sair das suas mãos por um instante que fosse. Só aceitaram ceder as peças depois de Ptolomeu ter assegurado a devolução através de um enorme depósito em dinheiro. Mas Ptolomeu dava mais valor a esses manuscritos do que ao ouro ou à prata. Preferiu por conseguinte perder a caução e conservar, o melhor possível, os originais na sua biblioteca. Os atenienses, ultrajados, tiveram de se contentar com as cópias que Ptolomeu, pouco envergonhado, lhes deu. Raramente se viu um estado encorajar a busca da ciência com tal avidez.

Os Ptolomeus não se limitaram a acumular conhecimentos adquiridos; encorajaram e financiaram a investigação científica e deste modo geraram novos conhecimentos. Os resultados foram espantosos: Eratóstenes calculou com precisão o tamanho da Terra, traçou o seu mapa, e defendeu que se podia atingir a Índia viajando para oeste a partir de Espanha; Hiparco adivinhou que as estrelas nascem, deslocam-se lentamente ao longo de séculos e acabam por morrer; foi o primeiro a elaborar um catálogo indicando a posição e magnitude das estrelas de modo a poder detectar essas mudanças. Euclides redigiu um tratado de geometria com base no qual os seres humanos aprenderam durante vinte e três séculos, trabalho que iria contribuir para despertar o interesse científico de Kepler, Newton e Einstein; os escritos de Galeno acerca da medicina e da anatomia dominaram as ciências médicas até ao renascimento. E muitos outros exemplos (...)"
Carl Sagan, in "Bibliteca de Alexandria"


Carl Sagan sempre me pareceu chorar por tudo aquilo que a humanidade perdeu nos (vários) incêndios da Biblioteca de Alexandria.

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O fogo destruíndo a ciência

Quando lí a notícia do incêncio no Instituto Butantan, pensei no incêncio da Biblioteca de Alexandria.

Bombeiro faz o rescaldo do prédio queimado no Instituto Butantan
Foto: Nelson Antoine/Foto Arena/Agência Estado

Desde que tenho memórias, ouço falar do Instituto Butantan como um lugar de ciência e de cura.

Sempre imaginei que se fosse mordido por uma serpente venenosa, minha cura viria do Instituto Butantan.

Segundo nota da Sociedade Brasileira de Zoologia, "foram perdidos mais de 500 mil espécimes entre ofídios e aracnídeos".

No site UOL, um relato de um pesquisador:
“A perda é irreparável. Aquele material não tinha preço e não existe outro igual. Perdemos mais com o incêndio do Butantan do que se tivéssemos queimado dezenas de bibliotecas, pois as bibliotecas são compostas quase sempre por livros publicados em série, já muitas serpentes que compunham o acervo do Butantan eram únicas e já não existem mais”, lamenta Miguel Trefaut Urbano Rodrigues, herpetólogo do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).
Na mesma reportagem do UOL o historiador da Casa de Oswaldo Cruz, Luiz Antonio Teixeira, explica que a coleção era resultado da colaboração e do trabalho da população brasileira, além da profunda dedicação de cientistas de diversas épocas. E completa:
“O acervo tinha grande importância histórica, porque os primeiros exemplares foram colhidos pelo próprio Vital Brasil, fundador do Butantan. Há cerca de 100 anos, ele criou o costume de trocar serpentes trazidas pela própria população por ampolas de soro. No início, muitos exemplares foram conseguidos dessa forma. Assim foi construída a base da coleção”
Nos jornais, afirma que 120 anos de amostras de espécies, algumas deles únicas, foram perdidas.

Qualquer shopping center ou banco que se vá hoje, possui um sistema de combate à incêndios montado.

Como explicar que um Centro de Pesquisas Internacional como o Instituto Butantan não tenha?

Precisamos que nossa nação proteja melhor sua ciência, seu patrimônio cientifico e histórico.

Para saber mais, lei abaixo a carta Sociedade Brasileira de Zoologia:


Um alerta para situação das coleções científicas

Excelentíssimo Senhor
Sérgio M. Rezende
MD Ministro da Ciência e Tecnologia

Prezado Senhor,

A Comunidade científica acabou de perder um acervo magnífico, com o incêndio ocorrido neste último final de semana no Instituto Butantan em São Paulo. Há muito tempo que a Sociedade Brasileira de Zoologia vem discutindo, nos fóruns em que participa, sobre a melhoria das condições de coleções científicas nacionais. Entendemos que o ocorrido foi uma fatalidade, porém, este fato deve ser considerado como um alerta pois existem várias outras coleções científicas instaladas em prédios antigos e inadequados, com acervos históricos de áreas que muitas vezes nem mais existem devido às ações antrópicas.

Entendemos que chegamos em um momento importante e crucial. Devemos deixar diferenças de lado e solicitarmos uma ação transversal entre ministérios para um programa urgente de melhoria das coleções científicas. É inconcebível que estas não contem com acondicionamento apropriado para o material e condições mínimas de segurança e preservação de seu acervo. Urge também a necessidade de catalogação das informações em meio digital descentralizado, garantindo assim a perpetuação das informações e o necessário acesso irrestrito a estas informações pela comunidade científica e leiga.

No Instituto Butantan foram perdidos mais de 500 mil espécimes entre ofídios e aracnídeos. Como recuperar estas informações? Não há como! Mas devemos pensar que há inúmeras outras coleções científicas em risco, pois os locais onde estão acondicionados milhões de espécimes são inapropriados e as condições de segurança são precárias, não apenas contra incêndios, mas também contra infiltração de umidade, vandalismos, roubos, etc.

O acervo consumido pelo fogo, não é apenas um prejuízo da comunidade científica brasileira, mas sim da humanidade. Seu valor histórico é incalculável. Não foram simples cobras ou aranhas e escorpiões que se perderam. Perdeu-se sim, importantes informações sobre nossa biodiversidade que foram consumidas pelo fogo e pela falta de atenção do poder público. Se não houver uma política pública de longo prazo para manutenção e ampliação dessas coleções, poderemos perder muito mais.

Sociedade Brasileira de Zoologia

Religião e ciência

Deus? Não obrigado.

Reprodução do teto da Capela Sistina, de Michelangelo


Faz alguns dias uma aluna me perguntou qual minha religião.

Respondi que era ateu, convicto. E ao mesmo tempo adoro história das religiões, exatamente por elas revelarem muito da humanidade.

Ao mesmo tempo explico minha opinião categórica sobre Ensino e Religião: não se misturam. A religião fica do lado de fora da sala, como fé. E na aula, religião é história. Religião é pessoal, é particular, é questão privada de cada um.

Mas se me perguntarem, sobre a razão de eu ser ateu, usaria as palavras de Karl Marx, em seu texto de 1843 "Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel":

"(...) O homem que só encontrou o reflexo de si mesmo na realidade fantástica do céu, onde buscava um super-homem, já não se sentirá inclinado a encontrar somente a aparência de si próprio, o não-homem, já que aquilo que busca e deve necessariamente buscar é a sua verdadeira realidade.

A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião: este é o fundamento da crítica irreligiosa. A religião é a autoconsciência e o autosentimento do homem que ainda não se encontrou ou que já se perdeu. Mas o homem não é um ser abstrato, isolado do mundo. O homem é o mundo dos homens, o Estado, a sociedade. Este Estado, esta sociedade, engendram a religião, criam uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica popular, sua dignidade espiritualista, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua razão geral de consolo e de justificação. É a realização fantástica da essência humana por que a essência humana carece de realidade concreta. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, a luta contra aquele mundo que tem na religião seu aroma espiritual.

A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito. É o ópio do povo.

A verdadeira felicidade do povo implica que a religião seja suprimida, enquanto felicidade ilusória do povo. A exigência de abandonar as ilusões sobre sua condição é a exigência de abandonar uma condição que necessita de ilusões. Por conseguinte, a crítica da religião é o germe da critica do vale de lágrimas que a religião envolve numa auréola de santidade.

A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas para que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva. A crítica da religião desengana o homem para que este pense, aja e organize sua realidade como um homem desenganado que recobrou a razão a fim de girar em torno de si mesmo e, portanto, de seu verdadeiro sol. A religião é apenas um sol fictício que se desloca em torno do homem enquanto este não se move em torno de si mesmo."
"
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Para completar, recomendo a leitura do escritor português José Saramago. Esse texto foi retirado da página da seção Atheo da Sociedade da Terra Redonda, página altamente recomendável por buscar a divulgação da ciência e a luta contra o obscurantismo.



O fator Deus

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator Deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "fator Deus" em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.

Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.

José Saramago é escritor português, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998.

14.5.10

Datas da Fuvest, Unesp e Unicamp!

FUVEST
• Manual do vestibular 2011 estará disponível na web a partir do dia 2 de agosto.
• As inscrições vão de 27 de agosto a 10 de setembro, também pela internet.
• As provas específicas serão realizadas de 10 a 15 de outubro.
• A primeira fase será no dia 28 de novembro e
• A segunda fase ocorrerá nos dias 9, 10 e 11 de janeiro.

UNICAMP
• Inscrições abertas entre 23 de agosto e 8 de outubro.
• A primeira fase vai acontecer no dia 21 de novembro.
• A segunda fase será realizada nos dias 16, 17 e 18 de janeiro.
• Já as provas de aptidão serão aplicadas em Campinas, de 24 a 27 de janeiro.

UNESP
Primeira fase da Unesp será no dia 14 de novembro.
Segunda fase será em 19 e 20 de dezembro.

13.5.10

Antropologia

Ianomâmis: eles querem seu sangue?

Em entrevista publicada na Folha de S.Paulo em 12/5, o líder ianomâmi Davi Kopenawa expõe a sua opinião sobre a decisão dos EUA de devolverem os estoques que sangue ianomâmi que foram levados em 1967 para os EUA para o desenvolvimento de "estudos cientificos" sem autorização da comunidade ianomâmi.

O ato de contrabando do sangue ianomâmi foi um típico caso de saque genético. O sangue ianomâmi, usado em pesquisas e estudos em 5 diferentes institutos de pesquisas estadunidenses era fruto de um roubo, na medida em que nenhum dos indios foi informado das razões da sua coleta e dos reais objetivos de seu armazenamento.

Leia a matéria completa:
"Davi Kopenawa diz estar contente com notícia de que sangue de seu povo será devolvido pelos EUA.

O líder ianomâmi Davi Kopenawa disse estar "muito contente" com a notícia de que as mais de 2.000 amostras de sangue de seu povo, que desde 1967 repousam em centros de pesquisa dos Estados Unidos, serão devolvidas à tribo. Conforme a Folha adiantou no último domingo (10/5), há um acordo sendo finalizado entre cinco universidades e o governo brasileiro para a devolução, que ainda não tem data.

Da Alemanha, onde está para assistir a uma ópera que tem seu povo como protagonista, o líder indígena respondeu por e-mail, por intermédio do antropólogo Bruce Albert, a perguntas feitas pela reportagem.

- COMO O SR. RECEBEU A NOTÍCIA DE QUE AS UNIVERSIDADES ACEITARAM DEVOLVER O SANGUE?
Foi uma luta de dez anos. Agora, fiquei muito contente que os brancos acabaram entendendo a importância desse retorno.

- O SANGUE FOI COLETADO NOS ANOS 1960, MAS SÓ NESTA ÚLTIMA DÉCADA OS IANOMÂMIS COMEÇARAM A SE ESFORÇAR PARA TÊ-LO DE VOLTA. POR QUÊ?
O sangue foi tirado do nosso povo quando eu era menino. Os cientistas não explicaram nada direito. Só deram presentes, panelas, facas, anzóis e falaram que era para coisa de saúde. Depois todo mundo esqueceu. Ninguém pensou que o sangue seria guardado nas geladeiras deles, como se fosse comida! Só em 2000 que eu soube que esse sangue estava ainda guardado e sendo usado para pesquisa. Aí me lembrei da minha infância, e os velhos também se lembraram de que nosso sangue foi tirado. Todo mundo ficou muito triste de saber que esse sangue nosso e de nossos parentes mortos ainda estava guardado.

- NAPOLEON CHAGNON E JAMES NEEL AGIRAM ERRADO COM VOCÊS?
Eu acho que estavam muito errados, porque eles pensaram que os ianomâmis podem ser tratados como crianças e não têm pensamento próprio. Não dá para fazer pesquisa com povos indígenas sem explicação. Pesquisa que interessa à gente é para melhorar nossa saúde. Não dá para pesquisar e deixar a gente depois morrer de doenças. Um tempo depois que esses cientistas foram embora, em 1967, morreu quase todo o meu povo do Toototobi de sarampo.

- POR QUE O SANGUE SERÁ JOGADO NO RIO QUANDO ELE VOLTAR?
Vamos entregar esse sangue do povo ianomâmi ao rio porque o nosso criador, Omama, pescou sua mulher, nossa mãe, no rio no primeiro tempo. Mas não gosto da palavra "jogar", não vamos jogar o sangue dos nossos antigos; vamos devolver para as águas.

- OS CIENTISTAS DIZEM QUE, SEM PODEREM ESTUDAR O SANGUE E O DNA DE VOCÊS, INFORMAÇÕES QUE PODEM SER PRECIOSAS PARA TODA A HUMANIDADE SE PERDERÃO PARA SEMPRE. COMO O SR. REAGE A ESSA CRÍTICA?
A ciência não é um deus que sabe tudo para todos os povos. Se querem pesquisar o sangue do povo deles, eles podem. Quem decide se pesquisas são boas para nosso povo somos nós, ianomâmis."

12.5.10

13 de maio

Abolição: concessão ou revolução?

A Revista de História da Biblioteca Nacional fez uma interessante pauta sobre o 13 de maio.

A revista pediu ao professor
Renato Venâncio da Universidade Federal de Minas Gerais que fizesse um passeio pela biblioteca digital do Senado com indicações do que ler sobre o dia 13 de maio, sobre a luta abolicionista e o fim do trabalho escravo no Brasil.

Esse passeio pela web é pode ser visto clicando aqui.

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13 de maio, uma data quase esquecida


O debate historiográfico sobre essa data é intenso.


Uma parcela dos pesquisadores criticam a data.

A o dia da abolição sempre apresentada nas escolas como uma "concessão" bondosa do regime monárquico, dada pela futura imperatriz brasileira, Princesa Isabel.

E por isso reivindicam a data-símbolo para resistência negra no Brasil ser o dia 20 de novembro dia nacional da Consciência Negra e data da "imortatalidade de Zumbi de Palmares", hoje feriado em muitas cidades brasileiras.

Com toda a certeza, 20 de novembro é uma data fundamental, pois lembra o maior Quilombo do Brasil, o Quilombo de Palmares e a ação dos escravocratas para destruir a resistência negra, com uso dos Bandeirantes paulistas para acabar com essa cidadela da liberdade no território do Brasil.

Minha impressão é
que 13 de maio é uma importante data para o Brasil e não pode ser esquecida.

Não por causa de uma pretensa bondade da Monarquia. Essa não tinha nada de boa e sempre foi, até o último suspiro, defensora da ordem escravocrata e cujo Lei Aurêa

Cena de açoite de escravos no Brasil no quadro de J.B. Debret "Castigo no Pelourinho".


Na verdade, penso como aqueles autores que afirmam que 13 de maio de 1888 foi um marco na história brasileira, não pela "bondade", mas pela força da luta abolicionista que nos últimos anos do escravismo, minou a ordem e promoveu uma verdadeira ruptura social.


Sobre isso o professor e historiador gaúcho Mário Maestri tem um extraordinário artigo "
13 de maio: A única revolução social do Brasil" (clique no título para ler na integra).

O artigo é de 2005, mas segue sendo uma das melhores caracterizações do 13 de maio que já lí.
Vejam alguns trechos:
"Neste 13 de maio, cumpre-se sem glória mais um natalício do fim da escravatura no Brasil, uma das primeiras nações americanas a instituir e a última a abolir a escravidão. Dos 505 anos de história brasileira, mais de 350 passaram-se sob o látego negreiro. Apesar da superação do escravismo constituir o mais significativo acontecimento de passado nacional, o aniversário da Abolição transcorrerá, outra vez, semi-esquecido."
Mais adiante ele escreve:
"Apesar de bem-intencionadas, essas leituras consolidaram as interpretações do 13 de Maio dos ideólogos das classes proprietárias, que procuravam escamotear o sentido de sucessos nascidos do esforço das massas escravizadas aliadas aos setores abolicionistas radicalizados. Assentavam assim a última pedra na construção do esquecimento do mais importante acontecimento histórico brasileiro - a revolução abolicionista de 1887-8."
Vale a pena ler esse artigo sobre importante data na história.

Mundo antigo - Roma

Aprendendo com Roma, da "coisa pública" ao Império Romano

Nessa semana em algumas turmas do extensivo terminamos a Grécia e começamos o estudo de Roma.

Uma boa dica para aprender mais sobre o mundo antigo é uma visita nos artigos produzidos pelo Portal UOL - Educação sobre o assunto. Faço um roteiro dos artigos que ajudam a complementar o estudo da apostila e da aula. O link em cada nome do artigo, leva você ao artigo completo.

O primeiro artigo "Roma antiga - Introdução - De Rômulo e Remo à República e ao Império" da historiadora Fernanda Machado é um bom passeio pela antiguidade romana. A historiadora começa começa explicando um pouco das origens desse que foi um dos maiores impérios do mundo:

"Para entender como Roma conseguiu adquirir tanta importância e poder é necessário conhecer sua história em mais detalhes. A origem da sociedade romana não tem uma evidência concreta. Baseia-se numa lenda, que era uma maneira antiga de explicar fatos cuja memória se perdeu em tempos muito distantes. Assim, o poeta romano Virgílio alimentou a fantasia de seu povo ao contar que Roma teria sido fundada por dois irmãos: Rômulo e Remo."

Estátua da loba capitolina que, segundo a lenda, teria amamentado os gêmeos Rômulo e Remo.
Foto de Arnaldo Interata.

O segundo artigo é "Roma antiga - Origens - Costumes, cultura, cidadania e direito", apresenta a nossa herança atual vinda de Roma. Do português, "Última flor do Lácio" até as instituições jurídicas e políticas:

"Roma nos deixou ainda uma série de ensinamentos notáveis no campo da política (a idéia de República), e do direito (o direito romano é a base da ciência jurídica da maioria dos povos contemporâneos). Além disso, no âmbito da arquitetura e do sistema de administração municipal, bem como a organização da Igreja católica - que modelou o mundo medieval - existem diversos legados romanos. Desse modo, conhecer a história de Roma é conhecer um pouco de nossa própria história."

O terceiro artigo "Roma antiga - Monarquia - História dos reis de Roma é cercada de lendas" apresenta a primeira fase da organização social romana, onde história e lendas se confundem

"Situada entre sete colinas, Roma teria tido também sete reis que reinaram 245 anos, isto é, sete vezes sete lustros (um lustro é um período de cinco anos). Na realidade, esse número é muito provavelmente uma ficção mitológica e, se alguns desses reis de fato existiram, as vidas que lhes são atribuídas pelos historiadores antigos têm caráter inequivocamente fantástico."

O quarto artigo apresenta "Roma antiga - República - A organização do governo republicano de Roma" onde as instituições do governo romano são apresentadas partido do depoimento do historiador grego Políbio, testemunha ocular da história romana.

"O texto de Políbio certamente expressa os ideais republicanos de Roma, ainda que a atuação e as manobras dos políticos que exerciam o poder ou mesmo as circunstâncias reais pudessem originar distorções e desvios de rumo.

Ainda assim, trata-se de um documento de valor inestimável, por seu rigor e clareza. Assim, vale a pena conhecê-lo para se ter uma ideia das primeiras instituições republicanas na história da humanidade e observar como - num certo sentido - elas não perderam a atualidade."

Para compreender melhor o texto de Políbio há uma tabela com um resumo de fácil compreenção de cada uma das instituições romanas e pode ser visto clicando aqui.

O último artigo dessa série é "Guerras Púnicas - Roma e Cartago lutaram pelo domínio do Mediterrâneo". Trata-se da consolidação de Roma e o início de sua fase imperialista ainda no período republicano. É o momento de virada de Roma e a consolidação de sua hegemonia sobre o Mar Mediterrâneo, que será tratado dai por diante como uma piscina romana:

"As guerras Púnicas foram travadas por Roma contra Cartago entre 264 e 146 a.C. pela hegemonia do comércio no mar Mediterrâneo. O conflito se estendeu por mais de cem anos numa série de três confrontos, que culminou com a destruição total do Estado púnico. O nome púnico provém de "poeni", designação latina para o povo fenício, o fundador de Cartago."

Roma, em seu apogeo após o controle do Mar Mediterrâneo, nas Guerras Púnicas.



11.5.10

História medieval

Aqueduto do século 14 é descoberto em Jerusalém

Arquéologos anunciaram nesta terça-feira (11) a descoberta de uma aqueduto do século 14 que forneceu água para Jerusalém por quase 600 anos. Diferentemente de outras descobertas, porém, os arqueólogos nesse caso já sabiam onde o aqueduto se encontrava.

Fotografias do século 19 mostravam que o aqueduto era usado na cidade, na época sob comando otomano. A foto também possuía uma inscrição datando a obra, construída em 1320.

O aqueduto foi descoberto durante reparos no sistema de águas da cidade. Obras públicas em Jerusalém (e outras cidades antigas) são executadas sob supervisão de arqueólogos e outros profissionais. O objetivo é evitar que potenciais achados sejam destruídos no processo de modernização.

A equipe encontrou duas das novas seções de uma ponte de cerca de 3 metros de altura na parte oeste da Cidade Velha de Jerusalém.

Embora os arqueólogos já soubessem que o aqueduto estava lá, essa é a primeira vez que eles puderam visualizar diretamente o engenhoso sistema, usado por séculos para combater a gravidade e transportar água a longas distâncias.

Nos tempos bíblicos, o crescimento da populaçao de Jerusalém levou os líderes locais a buscar fontes de água em locais cada vez mais distantes. Uma fonte de água foi encontrada próximo a Belém, seguindo uma rota tortuosa distante 22 quilômetros. O aqueduto encontrado hoje em Jerusalém segue a mesma rota do primeiro aqueduto construído na região, há 2.000 anos.

Associated Press, em Jerusalém
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u733502.shtml