6.1.10

Caranguejo Samurai

Seleção artificial: o caso do caranguejo samurai


Lendo um interessante artigo do biólogo "Caranguejo samurai e o futuro do homem" de Alysson Muotri.


Ele retoma algo que Carl Sagan já havia explorado num episódio de Cosmos que me lembro desde criança.

Procurando na internet achei a passagem do Carl Sagan sobre os caranguejos samurai:
"Deixem-me contar-vos uma história sobre uma pequena frase musical da vida na Terra.

No ano de 1185, o imperador do Japão era um menino de 7 anos chamado Antoku. Ele era também o chefe nominal de um clã de samurais, os Heike, que travavam uma longa e sangrenta batalha com outro clã, os Genji, por ambos se acharem com direitos ancestrais ao trono imperial. O encontro naval decisivo entre os dois cIãs, com o imperador a bordo, deu-se em Danno-ura, no mar do Japão, a 24 de Abril de 1185. Os Heike eram numérica e tacticamente inferiores; muitos pereceram na batalha e os sobreviventes atiraram-se em massa ao mar, afogando-se. A senhora Nu, avó do imperador, decidiu que nem ela nem Antoku seriam capturados pelo inimigo. O que se seguiu vem contado na História dos Heike:

«O imperador tinha 7 anos, mas parecia muito mais velho. Era tão belo que parecia irradiar um halo de luz e o seu longo cabelo negro caía solto pelas costas abaixo. Com a surpresa e a ansiedade estampadas no rosto, perguntou à senhora Nu: ‘Para onde me levas?’ Ela voltou-se para o jovem soberano, com as lágrimas correndo em fio, e [...] confortou-o, atando-lhe os longos cabelos com as suas vestes cor de pomba. Com os olhos cegos pelas lágrimas, o pequeno imperador juntou as delicadas mãozinhas. Voltou-se primeiro para oriente, despedindo-se do deus Ise, e depois para ocidente, recitando o Nembutsu [uma oração ao Amida Buddha]. A senhora Nu tomou-o nos braços e, dizendo ‘Nas profundezas do oceano está o nosso capitólio’, afundou-se finalmente com ele entre as ondas.»

Toda a armada Heike foi destruída só sobrevivendo quarenta e três mulheres. Estas damas da corte imperial viram-se forçadas a vender flores e outros favores aos pescadores da costa, perto do palco da batalha. Os Heike praticamente desapareceram da história.

Mas o miserável rebanho das ex-damas da corte e dos filhos que tiveram dos pescadores estabeleceram um festival em comemoração da batalha, o qual se realiza no dia 24 de Abril de cada ano.

Os pescadores descendentes dos Heike vestem-se de serapilheira e, com a cabeça coberta de negro, dirigem-se para o santuário de Akama, que contém o mausoléu do imperador afogado, onde assistem a uma peça que narra os acontecimentos que se seguiram à batalha de Danno-ura. Durante séculos, o povo imaginou ver exércitos de samurais que tentavam em vão esvaziar o mar, para o limpar do sangue, da derrota e da humilhação. Os pescadores dizem que os samurais Heike ainda vagueiam pelos fundos do mar do Japão — sob a forma de caranguejos.

De facto encontram-se neste local caranguejos com marcas curiosas nas carapaças, marcas e recortes que se assemelham de um modo perturbante ao rosto de um samurai. Quando apanham estes caranguejos, os pescadores não os comem, mas voltam a deitá-los ao mar, em comemoração dos trágicos acontecimentos de Danno-ura.

Esta lenda levanta um problema interessante. Como é que a cara de um samurai foi gravada na carapaça de um caranguejo?

A resposta parece ser que foram os homens que fizeram a cara. As marcas da carapaça dos caranguejos são hereditárias. Mas nestes bichos, tal como nas pessoas, existem muitas linhas genéticas.

Suponhamos que entre os antepassados longínquos deste caranguejo surgiu por acaso um cuja carapaça lembrava vagamente um rosto humano. Já antes da batalha de Danno-ura, os pescadores teriam provavelmente tido relutância em comer um caranguejo assim. E ao voltar a deitá-la ao mar, eles iniciaram um processo evolutivo: se fores um caranguejo de carapaça vulgar, os homens comem-te — a tua linha deixará poucos descendentes; se a tua carapaça se parecer, por pouco que seja, com uma cara, eles deitam-te de volta ao mar e poderás ter mais descendentes.

Os caranguejos investiram substancialmente nas marcas das carapaças. Com o passar das gerações, tanto de caranguejos como de pescadores, os animais cujas carapaças mais se assemelhavam a um rosto de samurai sobreviveram preferencialmente, até que acabou por se produzir, não só uma face humana, não só uma cara de japonês, mas o rosto feroz de um temível samurai.

Nada disto tem o que quer que seja a ver com o que os caranguejos querem. A selecção vem do exterior. Quanto mais te pareceres com um samurai, melhor para ti. A seu devido tempo, acabou por haver grandes quantidades de caranguejos-samurais."
O próprio biólogo Alysson Muotri cita em seu artigo o trecho do Carl Sagan acima.

E desenvolve o impacto da seleção artificial terá na vida em nosso planeta.

Vale a pena ler um trecho:
"De qualquer forma, a saga dos caranguejos Heike é um potencial exemplo do processo de seleção onde certas linhagens sobrevivem não por causa de forças da natureza, mas pela intenção humana. Esse caso específico é conhecido por biólogos e foi amplamente difundido por Carl Sagan em um episódio de "Cosmos" (alguém lembra?).

Na verdade, é apenas um dos milhares de exemplos desse tipo de seleção artificial, onde os homens decidem quais tipos de organismos sobreviverão no futuro. Hoje em dia, a seleção artificial é conscientemente utilizada em microbiologia, genética e biotecnologia, para a descoberta e desenvolvimento de novas drogas, por exemplo.

Fora dos laboratórios, o homem também modifica o ambiente a todo momento, nem sempre de forma consciente. Ainda não compreendemos as conseqüências de nossas ações no ambiente. Ações corriqueiras como o uso de detergentes, plásticos etc., influenciam o ecossistema e vão direcionar as espécies que vão habitar o planeta no futuro.

Interessante notar que, mesmo com tanta capacidade mental e tecnológica, o homem corre o risco de não estar entre as espécies selecionadas, gerando a própria extinção."
Quem quiser ler o artigo inteiro pode clicar aqui.

Espanha: desemprego de 19,3%

Na Europa a crise econômica prossegue. Na Espanha desemprego bate recorde.

Fila de desempregados na Espanha

O desemprego na Espanha ultrapassou a marca dos 19% chegando a 19,3%. Isso significa 1 em cada 5 trabalhadores espanhõeis estão sem trabalho.

Segundo matéria do Valor Ecônomico, republicada pelo site do jornal O Globo diz:
"O número de trabalhadores que entraram com pedido para receber os benefícios cedidos pelo Estado a desempregados aumentou para 3,92 milhões no último mês do ano, um acréscimo de 54.657 ou 1,41%, na comparação com novembro, de acordo com o National Statistics Institute.

Este é o pior resultado desde que a pesquisa passou a ser feita, em 1997. Com isso, a taxa de desemprego na Espanha saltou para 19,3%, segundo pesquisa da European Union. Entre os jovens, esse percentual sobe para 40%. A título de comparação, em outubro, a média de desemprego na zona do euro foi de 9,8%.

Para agravar a situação, projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) dão conta de que o nível de desemprego irá superar os 20% em 2010.

Além disso, o governo espanhol trabalha com a perspectiva de continuidade desse movimento durante todo o ano, com o mercado imobiliário protagonizando um excesso de no mínimo 1 milhão de moradias não-vendidas e alta da dívida das famílias referente a hipotecas."
Clique aqui para ler matéria completa.

Essa realidade é terrível. A expansão do desemprego se combina diretamente com uma profunda desagregação social (violência, drogas, sucídios...).

O movimento sindical e popular tem se oposto com propostas profundas como a exigência ao governo do Luiz Zapatero, do Partido Operário Socialista Espanhol (PSOE) para que proíba as demissões.

O impacto da crise na Europa segue demonstrando que a crise está longe de ter passado em nosso planeta.