27.12.10

Detroit e a destruição da indústria automotiva nos EUA

Para meus alunos que assistiram o filme "Roger e Eu" do documentarista Michael Moore, podem se interessar por essa notícia publicada hoje no jornal "Folha de S. Paulo". O artigo é de Andrea Murta, correspondente nos EUA do jornal.

É interessante ver que depois de bilhões e bilhões gastos, agora o objetivo é reduzir o tamanho da cidade, destruíndo infraestrutura instalada e hoje abandonada pelas grandes empresas metalurgicas e de autopeças da região.

Num país com tantos sem-tetos como os EUA -- onde se proliferam estacionamentos para as pessoas morarem em carros --, vão iniciar um processo sem precedentes de demolições de casas. É a política destrutiva que visa apenas fortalecer o mercado imobiliário.

Os negritos são meus.

Folha de S.Paulo - 27.12.2010 - Economia
Detroit planeja reduzir seu tamanho


Queda no número de habitantes da cidade acompanhou declínio de indústrias manufatureira e automobilística

Cidade passou de 1,85 milhão de habitantes para os atuais 850 mil e convive com grandes áreas abandonadas

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Detroit passou de símbolo do poderio industrial dos EUA para garoto-propaganda da decadência de toda uma era. E começa a admitir que não voltará nunca ao auge: a cidade planeja um enxugamento radical, uma metáfora inflada da transformação pela qual um país em crise deverá ter de passar.

A prefeitura anunciou neste mês que usará fundos federais para tentar remover moradores de bairros semiabandonados para outros ainda considerados economicamente viáveis. Literalmente, a cidade vai encolher.

É uma constatação do inevitável que já chegou tarde. Detroit perdeu em média 150 mil pessoas por década entre 1950 e 1990, e não parou mais. Passou de 1,85 milhão de habitantes para, no máximo, 850 mil hoje -o Conselho de Governantes do Sudeste de Michigan tem estimativa menor, de 775 mil.

A fuga deixou enormes espaços abandonados: 130 km2, cerca de um terço da área total da cidade, estão vazios. Há estimadas 78 mil casas vagas, 1.700 das quais foram demolidas no último ano. Outras 1.300 devem ser demolidas até março. E mais 10 mil em três anos.

Essa cidade fantasma não está nos subúrbios, mas bem no centro, onde Detroit cresceu com casas simples, pequenas e próximas demais umas das outras, feitas originalmente entre 1920 e 1930 para os trabalhadores que ajudaram a construí-la.
Ali, os espaços vazios deverão ser transformados em áreas verdes e fazendas de frutas e vegetais. "Em muitos aspectos, Detroit já é uma cidade semi-rural", disse à Folha Margaret Dewar, diretora do programa de planejamento urbano da Universidade de Michigan.

"As pessoas têm poucos vizinhos. Algumas usam o espaço para agricultura; na maioria das vezes há jardins comunitários."

ECONOMIA

É comum ver quarteirões vazios ou com apenas um morador. O estado da cidade é comparado até com Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina em 2005.
Mas, no caso de Detroit, a decadência foi lenta, acompanhando o declínio da indústria manufatureira e automobilística (estão baseadas ali as gigantes GM, Ford e Chrysler) que um dia a levou ao topo.

Com a recessão impulsionando a crise já instalada na cidade, o desemprego está hoje em 28,9% (a média do país é de 9,8%). O Tesouro municipal tem deficit deUS$ 300 milhões só dos fundos necessários para oferecer serviços básicos.

Muito foi tentado para estimular crescimento. Falou-se em trens-bala, foram construídos estádios e cassinos.

"Nada funcionou", afirma Dewar. "Perdemos muitas oportunidades. Há uma mentalidade disseminada nos EUA de só pensar em crescer, crescer. Adotar uma perspectiva alternativa é muito difícil."

A ideia de transformar áreas abandonadas em espaços verdes vem sendo aventada desde os anos 1990, mas só agora colocada em prática. O prefeito Dave Bing pretende recuperar os bairros que ainda têm chance de sobreviver -e apenas esses.

Ele quer comprar e renovar casas vazias e estimular moradores de regiões mais abandonadas a se mudar.

Para os que estão mais isolados, a prefeitura ameaça parar de prover serviços básicos como coleta de lixo, manutenção de ruas e até patrulhas policiais.

Mas há riscos políticos fortes associados com as decisões sobre que bairros abandonar e quais revitalizar. Sem falar na resistência de muitos residentes que simplesmente não querem sair das casas onde cresceram.

E o plano não tem apoio unânime. O urbanista americano Richard Florida diz crer que "é um erro encolher Detroit". "Não está na hora de desistir", afirmou.

"Eu defenderia pensar regionalmente, encorajar as universidades a criar novos campi pelo centro, melhorar o sistema de transporte etc. Encolher não é uma estratégia de desenvolvimento, é uma estratégia de não chegar a lugar algum."

26.12.10

Capitalismo e suicídios

A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro do corrente ano, denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: "metrô, trabalho, cama", atualizando-a agora como "metrô, trabalho, túmulo". Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista.

Leonardo Boff in "Crise neoliberal e sofrimento humano"

7.12.10

Usando a memória -- para não esquecer mais...

O que a Suiça te lembra?

Na Folha de S.Paulo de hoje o professor da USP Vladimir Safatle publica um artigo interessante sobre a Suiça.

O você lembrar sobre a Suiça?

Queijo suiço?



Chocolate suiço?



Canivetes suiços?



Relógios suiços?



Bancos suiços?



Os católicos vão lembrar daqueles caras com roupas estranhas e coloridas que cuidam da segurança do Papa, a Guarda Suiça que desde de 1502 faz a segurança dos Papas.



Pessoalmente eu lembro do Jean Jacques Rousseau, o genial iluminista de Genebra.



E do jornalista Rui Martins, que durante um bom tempo fala na CBN (foi demitido pois fala a verdade sobre o Maluf) diretamente da Suiça pelas manhãs no programa do Heródoto Barbeiro e que fez a vitoriosa campanha pelo direito a cidadania dos "brasileirinhos apátridas". Hoje ele escreve para o Direto da Redação.



Agora tenho outra coisa para lembrar sobre a Suiça.

O texto do professor Safatle é interessante ao expor uma chaga, uma ferida cheia de pus, que se aprofunda na Europa em crise. Desemprego, ataques dos serviços públicos, aos direitos trabalhistas e sociais essa é a realidade da Europa em crise. Mas o parece não aceitar as coisas. É o que podemos ver nas manifestações, protestos e lutas. Que diga os povos da França, da Grécia, de Portugal e da Espanha.

A chaga que nos expõe o professor Safatle que só reafirma a ideia da igualdade dos direitos.

Só há igualdade, quando a igualdade é igual para todos.

FASCISMO SUÍÇO

Todos conhecemos o peso das palavras. Mas qual nome dar a uma sociedade cada vez mais marcada pela exploração política do medo do outro, pela estigmatização de estrangeiros e pela obsessão identitária? O dicionário político do Ocidente criou um duro nome para tal deriva autoritária.

Se lembrarmos dele, talvez sejamos obrigados a dizer que um fantasma assombra a Europa: o fantasma de uma nova forma de fascismo ordinário.

A Suíça assumiu a vanguarda desse processo. Há alguns dias, ela jogou na lata de lixo o que restava de sua democracia ao aprovar, por plebiscito, uma lei de dupla pena para crimes cometidos por estrangeiros. Um imigrante que, por exemplo, assalte um banco suíço especializado em lavagem de dinheiro, terá de cumprir a pena prevista no Código Civil e, posteriormente, ser expulso do país. Ou seja, ele cumpre uma dupla pena.

Tal aberração jurídica simplesmente quebra o princípio fundamental da democracia, a saber, a isonomia diante da lei. A noção de que todos, à exceção de inimputáveis, como as crianças e os loucos, estão submetidos às mesmas leis é a base da democracia. Mas, ao criar leis especiais para crimes de imigrantes, a Suíça quebra a isonomia entre delitos e penas e instaura um regime de discriminação legal.

Os helvéticos já tinham colocado um pé fora da democracia ao aprovarem, novamente por plebiscito, uma lei que proibia a construção de minaretes em mesquitas muçulmanas. Segundo eles, tais minaretes representavam o desejo expansionista e belicista do islã.

Cartazes associando minaretes a mísseis foram espalhados pelos alpes. Com isso, eles quebravam a ideia de que todas as religiões devem ter o mesmo tipo de tratamento pelo Estado (e, se for para falar em belicismo religioso, nenhuma religião passa no teste). Talvez o próximo passo seja a simples interdição para a construção de mesquitas. Afinal, para alguns, muçulmano bom é muçulmano invisível.

Que tais leis aberrantes tenham sido aprovadas por plebiscito só demonstra uma distorção intolerável do mecanismo plebiscitário. A noção de plebiscito tira sua legitimidade da ideia de que a soberania popular se manifesta como totalidade. Ou seja, a totalidade da sociedade, que se organiza de maneira igualitária, exprime sua vontade.

Mas leis discriminatórias contra grupos religiosos, raciais ou nacionais quebram a noção de totalidade igualitária da vida social, inaugurando uma lógica de massacre de minorias pela maioria. Por isso tais leis nunca poderiam ser objeto de um plebiscito.

Aqueles que realmente se preocupam com a democracia talvez devessem voltar seus olhos para Suíça, Holanda, Itália, Dinamarca. De lá vem a verdadeira ameaça.

VLADIMIR SAFATLE, professor de filosofia da USP

Publicado na Folha de Sâo Paulo, dia 7/12/2010

Coreias em conflito

Coreias em conflito

[ Nota do professor Alexandre: publico matéria do site da Revista de História da Biblioteca Nacional. Essa revista é uma das melhores publicações de divulção sobre história. Vale a pena ler. Quer conhecer o site? Clique aqui! ]

Coreia do Norte bombardeia o Sul e reacende tensão entre países, cuja paz nunca foi assinada; professor da USP explica que região tem importância 'geopolítica fundamental'
Ronaldo Pelli


Foto de um norte-coreano na Zona Desmilitarizada entre
as Coreias do Norte e do Sul - Foto de Kok Leng Yeo / CC

Não é só no Rio que a população ficou apreensiva por conta da iminência de uma guerra. O mundo está de olho também em um outro conflito, tão ou mais complicado quanto o entre traficantes e policiais: o embate entre as duas Coreias. O assunto chegou a ser um dos assuntos mais comentados na internet.

A tensão começou na terça-feira (23), quando uma ilha na Coreia do Sul foi atingida por mísseis norte-coreanos, deixando quatro mortos - dois civis e dois militares - e cerca de 20 feridos. Em seguida, os chineses, aliados do Norte, enviaram mensageiros a Seul para evitar retaliações. Os EUA, aliados do Sul, começaram a fazer manobras em frente à cidade litorânea sul-coreana de Taean, gesto que foi mal interpretado pelos do Norte. Nesta terça-feira, por meio de sua imprensa oficial, a Coreia do Norte afirmou que sua usina de enriquecimento de urânio possui "milhares" de centrífugas e está em processo de construir um reator nuclear de água leve. Mesmo que se apresente como um projeto para fins pacíficos, o clima é tenso.

“O conflito entre as duas Coreias tem importância geopolítica fundamental”, explicou o coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, Angelo Segrillo, que enuncia as razões de o mundo inteiro estar de olho na península:

“Primeiro, é um dos conflitos não resolvidos do tempo da Guerra Fria que persistem nestes tempos pós-Guerra Fria. Segundo, o conflito não se limita às duas Coreias. Ele envolve diretamente as duas maiores potências atuais (EUA e China) que apoiam cada uma um dos lados, sendo que os EUA têm um acordo de proteção militar com a Coreia do Sul. Terceiro, além destes quatro, o conflito envolve quase que automaticamente (por proximidade) o Japão, o que aumenta o potencial das contendas saírem de controle por excesso de lados importantes envolvidos.”

As duas Coreias guerrearam de 1950 a 1953, fruto da divisão ocorrida após a Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria vigente: o norte se tornou comunista e o sul, capitalista. Mas, diferentemente do que acontece em outros conflitos dessa natureza, a guerra não terminou com um armistício, mas uma trégua, que dura em tese até hoje.

“Não apenas os países estão tecnicamente em guerra (uma situação altamente anômala e perigosa nos tempos atuais), mas representam dois sistemas diferentes: capitalismo e socialismo”, conta Segrillo, lembrando que mesmo com o fim da União Soviética não representou o fim de todos os países comunistas. “Assim, a grande questão que dividiu o mundo na Guerra Fria (divisão capitalismo/socialismo) não terminou no período pós-Guerra Fria e dificulta a resolução do conflito.”

Outro fator que dificulta nesse processo de paz é a constante invasão do território coreano, por China e Japão, e a forte influência que países como EUA e URSS exerceram sobre as Coreias, por conta da Guerra Fria.

“Isto marcou profundamente os coreanos e torna especialmente os norte-coreanos muito sensíveis ao conflito. Eles querem a reunificação do país sob a única forma independente que veem (isto é, sem a intromissão dos EUA)”, explica o professor Segrillo.

Sob os olhos do imperador

Sob os olhos do imperador


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O Egito na visão de Napoleão Bonaparte e de 167 estudiosos franceses da mesma época pode ser visto em São Paulo até o dia 19 de

O Egito na visão de Napoleão Bonaparte e de 167 estudiosos franceses da mesma época pode ser visto em São Paulo até o dia 19 de dezembro, na sede do Itaú Cultural. A exposição “O Egito sob o Olhar de Napoleão” exibe 14 gravuras que fazem parte dos 22 volumes do livro “Descrição do Egito”, resultado de uma incursão militar no país árabe em 1798.

Além das gravuras originais do livro, que pertencem ao acervo do próprio Banco Itaú, estão expostas as matrizes em bronze destas figuras, cedidas pelo Museu do Louvre, e oito peças egípcias, três do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e cinco de coleção particular.

“Uma coisa que chama a atenção é a multiplicidade de possibilidades que a ‘Descrição do Egito’ oferece. Ele mostra o Egito Antigo, mas também o Egito moderno”, diz o arqueólogo Vagner Porto, curador da exposição, sobre a variedade de assuntos tratados nos volumes da obra.

Entre as gravuras expostas, Porto destaca duas em especial: a esfinge, “que representa o símbolo do Egito Antigo”; e o livro dos mortos. Esta traz a representação do julgamento pelo qual os egípcios acreditavam que os espíritos eram submetidos após a morte.

“No Egito Antigo, os mortos tinham que passar pelo tribunal do deus Osíris”, explica o curador. Ele conta que, durante o julgamento, o coração do morto era colocado em um dos lados de uma balança, enquanto no outro era colocada uma pluma. Para ser salvo, o coração precisava ser livre de maldades e pecados, não podendo pesar mais do que a pluma.

A mostra é dividida em cinco seções: Cartografia, Religião, Egito Moderno, História Natural e Arquitetura. Esta última, segundo Porto, é o destaque da exposição. “É muito importante a questão da arquitetura em todos os volumes da ‘Descrição’”, destaca o curador.

Para que os visitantes possam conhecer mais da obra, além das páginas expostas dos livros, estão à disposição 13 telas interativas nas quais o público pode ver outras gravuras presentes em “Descrição do Egito”, como se estivesse folheando um livro verdadeiro.

A viagem e a publicação do livro

Com o objetivo de deter a dominação britânica no Egito, o então general Napoleão Bonaparte viajou ao país árabe com uma força de 34 mil homens, acompanhados de 167 estudiosos, entre artistas, gravadores, escultores, impressores, arquitetos, astrônomos, geógrafos, químicos e outros especialistas, encabeçados pelo artista e barão Dominique Vivant Denon.

Denon seguiu para o Alto Egito e fez uma série de esboços rápidos de suas ruínas. O general reconheceu a importância do registro e pediu aos cientistas que medissem e desenhassem os monumentos. Napoleão formou, assim, a bases de “Descrição do Egito”, que acabaria dirigindo a atenção do mundo para o Egito Antigo, embasando os estudos modernos de sua história.

A coleção totaliza 22 volumes, dos quais 21 estão exibidos na mostra, e mais de 900 gravuras em metal e está dividida em três partes: Antiguidade, Estado Moderno e História Natural.

Foi a publicação, no entanto, do livro “Viagem pelo Baixo e Alto Egito”, de Denon, que levou Napoleão a publicar “Descrição do Egito”, em 1809. Uma das gravuras do barão francês pode ser vista na exibição. “Denon publicou seu livro por conta própria e, graças ao sucesso, motivou a publicação do ‘Descrição do Egito’”, relata Porto.

Serviço


O Egito sob o Olhar de Napoleão

Local: Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, São Paulo
Data e horários: até 19 de dezembro, de terça a sexta, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h.
Entrada gratuita

Fonte: ICArabe